segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

O que a canção não diz



Hoje fiz uma canção
Para abrir meu coração
E, apesar do seu desdém,
Digo que estou seguindo bem.
Só não disse o que eu quis
Pois, achei melhor dizer
Que agora estou feliz
E que, desde que você foi embora,
Minha  vida só melhora
Que já me sinto bem mais leve
E o sofrimento foi tão breve.
Com ilusões quase infantis
Ah, como eu minto pra você
Na canção que hoje eu fiz
Falando que está tudo certo
Como areia no deserto
Mas, é justo o contrário:
Borboletas em aquários.
Em confissões assim sutis
Será que você vai entender
O que a canção não diz?



sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

A pessoa certa.



Ofereço-me:


Para esconder um remédio
E trocar por veneno
Ou pra fazer intermédio
Numa ação de suborno.
Pode ser ao menos
Para invadir um prédio
Ou explodir um forno.

Pra arrumar o gabarito
Da prova de matemática
Ou pra por em prática
Seu plano de vingança.
Só pra ver alguém aflito
Só pra dar um susto
Sequestrar uma criança.

Posso acabar com casamentos
Ou para assuntos mais urgentes
Eu falsifico documentos.
Reparo casos de injustiça
E, claro que, sendo inocentes
Faço resgate de detentos.
Mas, aos domingos, vou à missa.

Com garantia e compromisso
Faça chuva ou faça sol
Sexo, drogas e rock'n'roll
Kit completo sempre à mão.
Mas, macumba não é meu serviço
É que eu não mexo com isso
Porque sou muito cristão.

Pra te livrar de uma enrascada
Se o caso exige discrição
Pode chamar de madrugada
Carregue sempre meu cartão
Pois, tenho o que o mercado não oferta:
Procurando uma pessoa errada?
Eu sou a pessoa certa!


domingo, 1 de dezembro de 2013

Não sou de confiança



Me escolhi pra meu amigo
Aquele que me dá conselhos
Mas, na conversa de eu comigo
Não dá pra ser imparcial
E acontece com frequência
Quando escuto meu espelho
Pode apostar que na sequência
Eu quase sempre me dou mal.

Eu me conto mil segredos
Pra me arrepender depois
Pois, no outro dia já bem cedo
Eu já espalhei alguns.
Nessa hora eu me castigo
Juro romper com nós dois
Sei que um dia ainda consigo
Ficar sem mim sem ser nenhum.

Se ainda caio na minha lábia
E me ouço de peito aberto
Tenho fé que eu não me traia
Guardo a inocência de criança.
Sei que ainda vou me sabotar
Mas tô ficando mais esperto
Pois, já começo a acreditar
Que não sou de confiança.

terça-feira, 5 de novembro de 2013

Tempo


O tempo corre, o tempo foge
E não nos devolve o troco
Não se usa o que sobrou de hoje
Noutro dia que tem pouco.

O tempo não passa a revés
O tempo não para um segundo
Anda com seus próprios pés
E não é igual pra todo mundo.

Tempo não tem coerência
Pois se é caso de urgência
O tempo dá de se arrastar
Mas se a festa tá boa
Aí, então, é que ele voa
E nem dá pra aproveitar.

Na parede sempre tem ponteiros
Avisando que com o tempo anil
No tempo de um dia inteiro
Lá fora tem possibilidades mil.

O tempo tem posto em meu rosto
Sinais que revelam minha idade
Tem por isso meu desgosto
Tempo cruel, tempo covarde

O tempo que tem poder de cura
É o mesmo tempo que amargura
O tempo, às vezes, não tem dó
Passou o tempo de uma vida
Velha mobília esquecida
Que sò tem sombra, só tem pó.

terça-feira, 29 de outubro de 2013

Melhor que nada (uma ova!)


Nem tudo é
Melhor do que nada,
"Melhor que nada"
Não é o suficiente.
Era melhor que nada
Me faltasse na vida
Era melhor que nada
Me fizesse indigente.

"Melhor que nada"
Não me enche a barriga,
"Melhor que nada"
Não preenche a estante.
Era melhor que nada
Me atrapalhasse na lida
Era melhor que nada
Me quisesse ignorante.

Melhor que nada
É seu sorriso na cara,
Melhor que nada
É um beijo no escuro.
Melhor que nada
Nos reprima essa tara
Melhor que nada
Nos separe por muros.

Melhor que nada
Não me torna mais dócil,
Melhor que nada
Não me faz ficar mudo.
"Melhor que nada"
É o jeito mais fácil
De outros terem
O melhor de tudo.

Morte e Vida



Sempre que alguém parte
Há que se entender
Que não existe arte
Que provoque o esquecimento.
Há que se aceitar
Que faz parte da vida
Cada morte
Cada despedida.

Há que se esperar com calma
O tempo pro alívio da alma
Pois, sempre chega o momento,
Ainda que tarde,
Em que o sofrimento se cansa
Para, então, de escorrer pelos olhos
E transforma a dor e a saudade
Numa incrível esperança.

Mas, sempre que alguém chega
Sempre que vem uma nova criança
É tanta felicidade
Tanta emoção
Que toda tristeza de outrora
Ocupa espaço na memória
E abre lugar no coração.

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Pronto, falei.



Hey, moço,
Posso falar?
Você é massa.
Posso falar?
Meu sangue pulsa
Se você passa e eu penso
Que possa ter pensado em mim.

Hey, moço,
Posso falar?
Te vi na praça.
Posso falar?
Pisei na poça.
Se você está por perto
Eu sempre fico cega assim.

Hey, moço,
Posso falar?
E não disfarça.
Posso falar?
Te dou um doce
Se a gente fosse pra
Um passeio juntos no jardim.

Hey, moço,
Posso falar?
Eu te confesso.
Posso falar?
Na missa eu peço
Que o diabo te force
A comer a maçã até o fim.

Hey, moço,
Posso falar?
Perdeu a graça.
Posso falar?
Dê mais um passo
E eu te faço perceber
Que a gente pode ser um só, enfim.

Pronto, falei.

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Tia é a mãe.


Não basta todo o desconforto
De passar dos trinta
E os cabelos brancos
Debaixo da tinta
Que se mutiplicam
Para meu pesar.
Eu sinto é muita pena
Desse meu espelho
Que tá ficando velho
E cada vez que eu olho
Tem uma ruga nova
Em algum lugar.

E como não fosse o bastante
Ainda estar solteira
E cheia de olheiras
Bem na sexta-feira
É impressionante
Sempre tem alguém
Que pode piorar.
Então, no meio do mercado
Ou na galeria,
Da noite pro dia
Você vira tia,
Dá pra acreditar?

Vê se eu tenho sobrinho
Assim desse tamanho?
Isso já tá estranho
Ouça bem, garoto,
O que eu vou te falar:
Eu junto mais de dez mil cães,
Soldados alemães,
Os grandes capitães
E o meu primo Baltazar.
Então, você vai aprender,
Eu sei, você vai entender
Que tia é a mãe
E nunca mais você vai me chamar.


domingo, 28 de julho de 2013

Promoção



Olha que legal
Esta incrível promoção
Que é ideal
E exclusiva pra você.
Adquirindo até o Natal
Artigos do meu coração,
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Entre tantos sentimentos
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Por aí  não acha, não
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Veja que sensacional!
Lá dentro do meu coração
Não é normal,
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Por aí não acha, não.
Essa é a tal
Que foi feitinha pra você.

Evite aborrecimentos
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domingo, 7 de abril de 2013

Sua fã.


Meu Chico, meu Ney
Cartola e Caetano.
É Dylan, é Marley
Arnaldo e Nando.
Meu Tim e meu Tom
Zé e Jobim.
George e John,
Meu Noel e meu Lins.

Vinicius, Neruda
Meu Suassuna.
Drummond e Bandeira
Leminski e Quintana.
É Garcia Marquez,
Galeano e Machado.
Meu Saramago,
Veríssimo e Amado.

Me deixe aqui
E eu fico até amanhã
Só pra te convencer:
menino, sou sua fã!

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Diz que casa.


Diga sim e eu me caso de casaco e calça fina
Faço festa e cerimônia se acaso isso te anima.
Eu construo a nossa casa bem aos pés de uma colina
No jardim, uma cascata, cassaú e casuarina.
Diga que sim
E eu melhoro até o ar que você respira.

Caso a grana seja escassa para comprar toda a mobília
A gente esquece o que for luxo e conquista o dia-a-dia.
Se precisar eu saio à caça e garanto o teu sustento
Juro jamais ser acusado de descuidar do casamento.
Diga que sim
E lutaremos por tudo aquilo que aspira.

Às sextas-feiras tem cassata para adoçar a sua vida
Saca só o meu cuidado com o preparo da comida.
Teremos dias de ressaca, mas, a gente não se cansa
Se na noite anterior teve cachaça, amor e dança.
Diga que sim
 Ou será que isso tudo não te inspira?

Em caso de amor ou de instinto, a gente pode se enroscar
Como bicho que acasala por acaso em qualquer lugar
E qualquer dia, de repente, em qualquer ocasião
Vira um casulo o teu ventre, vem um novo coração.
Diga que sim
Que, em todo caso, no final você suspira.

Por favor, não faz descaso pelo clima casual
Mas, olha o mar ali no ocaso implorando um casal
E a gaivota ansiosa que sonha um sim sob suas asas
Eu supero qualquer coisa, mas, por favor, diga que casa!
Diga que sim
Já que, afinal, tudo em nossa volta conspira.



                                                                Escute aqui:






sábado, 9 de fevereiro de 2013

Sobre o carnaval


       Como já era costume desde as festas nas senzalas, tem muita batucada, bebe-se muito, ama-se muito e atrapalha o sono de sinhá. Faz parte.  Festa animada, sabe como é, barulhenta mesmo. Mas o que causa incômodo no pessoal da Casa Grande não é o som do tambor, nem as danças das mulatas em trapos de festa exibindo corpos demais. O que provoca insuportável estranheza à nobre família é olhar do alto de sua janela e não entender por que festejam aqueles braços cansados, aquelas mão calejadas, os pés cortados e as costas queimadas. O que comemoram aqueles corpos sem alma e marcados pelos chicotes, ainda mais em terra de quem os subjuga, explora, castiga?  Isso perturba tanto a Casa Grande a ponto de sentirem qualquer coisa pesando na tímida consciência e lhes reconhece o direito a algumas noites de batucada. Em todo caso, melhor descer e observar de perto o que acontece, afinal, se não há motivos para comemorações, é muito possível que por ali se armem os planos contra aqueles que os submetem a essa condição, como se os nobres tivessem culpa por nascer privilegiados. Imagina! Recomenda-se que todos desçam sorridentes e evitando demonstrar desconfianças porque não querem parecer injustos. Assim o fazem e, para seu espanto, sem esforço algum.  Não precisa de muito tempo para que até os pés de madame comecem a sorrir batendo timidamente contra o chão. O primogênito, noivo da filha do Duque, se esquece de desconfiar de qualquer coisa e não tira os olhos dos quadris rodopiantes das mulatas. Sinhá, coitada, se esforça para conter o frio na barriga e a vontade de entrar na roda. Também quer levantar a saia, mas não pode, não pega bem.  Pobre sinhá!  O mesmo não podemos dizer do Senhor Barão, grande dono de terras e honrado pai de família, esse já inventou para mulher que foi averiguar algum sinal de rebelião e se meteu em algum canto com uma dessas negrinhas. Enfim, todo mundo se entrega à festa. Mas, como acontece sempre que tem cachaça, homem, mulher e baile, chega uma hora já tarde da noite que a capoeira deixa de ser dança e vira luta. Alguém falou besteira ou buliu com a mulher alheia e formou-se a briga. Perfeito para o Barão que volta exausto da folia afirmando: “Não falei que era melhor ficar de olho? Alguma confusão tinha...”  Então, dá ordens de acabar a festa e todos se recolhem. No dia seguinte, Sinhazinha, observa todos voltando ao trabalho e, apesar dos excessos, parecem renovados para a luta. Lembrando de como se sentiu ao ver aquelas bocas sorridentes entoando cantos de dor com os olhos derramando lágrimas, foi  Sinhá quem compreendeu porque essa gente de realidade tão sofrida comemora: Eles festejam o sonho!



quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Dani Ficando


Bom, não sei fazer
Aquela papinha de inhame,
Mas, quando você crescer
Prometo evitar vexames.
Me deixa ouvir
As palavrinhas que você repete?
Te ajudo a vestir
O sapatinho que pisa o carpete.
Juro servir
O seu potinho diário de danone.
Quero te assistir
Será que eu posso ser o seu mirone?
Posso até fazer
As vezes de sua amiga ou nanny
Rir até doer
E o mundo todo que se dane.
Mas, vai acontecer
De  castigar-te mesmo que te ame
E não vou ceder
Bem, a menos que você reclame...
Te ensino a abrir
A embalagem que cobre o chiclete
E posso encobrir
As encrencas em que você se mete.
Tento atender
Quando chamar ao telefone
E se adoecer
Eu juro vigiar, insone.
Preciso dizer
Que tudo agora é farra, é funny
E é só porque
Você chegou e se apresentou: Sou Dani!



quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Relax



Às vezes, a gente levanta,
Se olha no espelho
E sente que está
realmente, um trapo.
Nenhum vestido adianta,
Nem batom vermelho,
Esquece a festa,
Esquece o papo.
Mas também não entra na deprê
Que não é só com você
E ninguém tem que ser
Todo dia linda e sexy.
Então, baby, please...relax!

Tem dias que o dia começa
E o sol anuncia:
Não saia da cama
Que vai dar tudo errado!
No primeiro passo tropeça
E o sol que luzia
Pra não ver seu drama
Vira tempo fechado.
Também não é pra tantos ais
E não tem nada demais
Se rasgou cem reais.
É só remendar com durex.
Então, baby, please ... relax!

Tem coisa que vira um dilema
Na vida da gente.
Difíceis escolhas,
Qual a melhor decisão?
Seriam soluções do problema
Apagar a mente,
Morar numa bolha,
Ou virar ermitão.
Mas, nem tudo é motivo pra choro
Ou clamar por socorro,
Tanto faz se o cachorro
Vai chamar Bingo ou Rex.
Então, baby, please...relax!

Um dia você fatalmente descobre
Que está ficando velha
E no que antes era útil
Hoje não  serve mais.
Por mais que você se desdobre
Ou só coma ervilhas,
O tempo hostil
Lhe apresenta os sinais.
Mas, isso não é nenhum absurdo
Tem vantagens em ficar surdo.
Obsolescência é pra todos e pra tudo,
Também foi assim com o fax
Então, baby, please...relax!















sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Aos moralistas


São guerreiros os artistas,
Os poetas e ativistas
Sempre alvos dos patetas
Da elite moralista
Que defendem os bons costumes
Em alto e bom volume
Fechados em suas gavetas
Se dizendo tão incólumes.

Saiba então, senhor pudico
Que se porta como síndico
Do mundo e da vida alheia,
Do seu aval, eu abdico.
Seu conceito de moral
Não conhece o bem e o mal.
Sua arrogância é muito feia,
Você não é o maioral.

Abaixe o dedo que me aponta
Pois, não é de sua conta
Quem se deita em minha cama.
Seu olhar não me amedronta.
Te afronta a felicidade
De quem vive de verdade
E não se importa com a fama
Nas bocas cheias de maldade.

Me matar com seu veneno
Nunca esteve entre meus planos.
Então, me deixa gozar
Como já gritou Caetano.
Enquanto eu penso em sorrir
Você tenta reprimir,
Mas, se me impede de sonhar
Eu te impeço de dormir.









.

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Ser e não ser - eis a solução.


Não sou somente corpo,
Tampouco, apenas alma.
Eu sou um policarpo,
Frutifico fúria e calma.
Eu sinto com a cabeça
E penso com o coração.
Sanidade com cachaça,
Loucura com razão.

Não sou de todo bem
Nem sou de todo mal.
O que, a mim, convém
Contempla o plural.
Eu sou boa vontade
Com um toque de desdém.
Sou tudo pela metade
Mas, tudo em mim contém.

Só eu não sou ninguém,
Pois, enquanto ser global,
Sou só mais um e eu sou quem
Complementa o total.
Sou o que não entendo
E também o que agrego.
Eu sou o que defendo
Tanto quanto o que nego.

Sou como você me enxerga
E o que não pode ver
E ainda me integra
O que eu não posso ser.
Também sou o que sonho,
Pois, no sonho sobressalta
Aquilo do que não disponho.
Também é real o que me falta.

Eu sou o indefinível
Com códigos de barras.
Sou o crível e o incrível,
Sou formiga e sou cigarra.
Eu sou tudo o que sim
E sou tudo o que não.
Eis, então, que para mim
Ser e não ser é a solução.










sábado, 12 de janeiro de 2013

Saudade (dedicado e em parceria com vô Juca)

Saudade
O meu peito dilacera
Nessa imensa vontade
De que tudo seja novamente como era.

Saudade
O meu peito se amansa
Numa incrível habilidade
De alimentar em novos dias a esperança.

Saudade
O meu peito se orienta
Na crença da verdade
De que a vida vai quando já não se aguenta.

Saudade
O meu peito não entende
Toda sua complexidade
Então, ora ele escurece, ora ele se acende.

Saudade
O meu peito vagabundo
Quase como caridade
Te abriga e se oferece como seu mundo.

Mundo, mundo, mundo,
Fundo, fundo,
Maior.