segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Diz que casa.


Diga sim e eu me caso de casaco e calça fina
Faço festa e cerimônia se acaso isso te anima.
Eu construo a nossa casa bem aos pés de uma colina
No jardim, uma cascata, cassaú e casuarina.
Diga que sim
E eu melhoro até o ar que você respira.

Caso a grana seja escassa para comprar toda a mobília
A gente esquece o que for luxo e conquista o dia-a-dia.
Se precisar eu saio à caça e garanto o teu sustento
Juro jamais ser acusado de descuidar do casamento.
Diga que sim
E lutaremos por tudo aquilo que aspira.

Às sextas-feiras tem cassata para adoçar a sua vida
Saca só o meu cuidado com o preparo da comida.
Teremos dias de ressaca, mas, a gente não se cansa
Se na noite anterior teve cachaça, amor e dança.
Diga que sim
 Ou será que isso tudo não te inspira?

Em caso de amor ou de instinto, a gente pode se enroscar
Como bicho que acasala por acaso em qualquer lugar
E qualquer dia, de repente, em qualquer ocasião
Vira um casulo o teu ventre, vem um novo coração.
Diga que sim
Que, em todo caso, no final você suspira.

Por favor, não faz descaso pelo clima casual
Mas, olha o mar ali no ocaso implorando um casal
E a gaivota ansiosa que sonha um sim sob suas asas
Eu supero qualquer coisa, mas, por favor, diga que casa!
Diga que sim
Já que, afinal, tudo em nossa volta conspira.



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sábado, 9 de fevereiro de 2013

Sobre o carnaval


       Como já era costume desde as festas nas senzalas, tem muita batucada, bebe-se muito, ama-se muito e atrapalha o sono de sinhá. Faz parte.  Festa animada, sabe como é, barulhenta mesmo. Mas o que causa incômodo no pessoal da Casa Grande não é o som do tambor, nem as danças das mulatas em trapos de festa exibindo corpos demais. O que provoca insuportável estranheza à nobre família é olhar do alto de sua janela e não entender por que festejam aqueles braços cansados, aquelas mão calejadas, os pés cortados e as costas queimadas. O que comemoram aqueles corpos sem alma e marcados pelos chicotes, ainda mais em terra de quem os subjuga, explora, castiga?  Isso perturba tanto a Casa Grande a ponto de sentirem qualquer coisa pesando na tímida consciência e lhes reconhece o direito a algumas noites de batucada. Em todo caso, melhor descer e observar de perto o que acontece, afinal, se não há motivos para comemorações, é muito possível que por ali se armem os planos contra aqueles que os submetem a essa condição, como se os nobres tivessem culpa por nascer privilegiados. Imagina! Recomenda-se que todos desçam sorridentes e evitando demonstrar desconfianças porque não querem parecer injustos. Assim o fazem e, para seu espanto, sem esforço algum.  Não precisa de muito tempo para que até os pés de madame comecem a sorrir batendo timidamente contra o chão. O primogênito, noivo da filha do Duque, se esquece de desconfiar de qualquer coisa e não tira os olhos dos quadris rodopiantes das mulatas. Sinhá, coitada, se esforça para conter o frio na barriga e a vontade de entrar na roda. Também quer levantar a saia, mas não pode, não pega bem.  Pobre sinhá!  O mesmo não podemos dizer do Senhor Barão, grande dono de terras e honrado pai de família, esse já inventou para mulher que foi averiguar algum sinal de rebelião e se meteu em algum canto com uma dessas negrinhas. Enfim, todo mundo se entrega à festa. Mas, como acontece sempre que tem cachaça, homem, mulher e baile, chega uma hora já tarde da noite que a capoeira deixa de ser dança e vira luta. Alguém falou besteira ou buliu com a mulher alheia e formou-se a briga. Perfeito para o Barão que volta exausto da folia afirmando: “Não falei que era melhor ficar de olho? Alguma confusão tinha...”  Então, dá ordens de acabar a festa e todos se recolhem. No dia seguinte, Sinhazinha, observa todos voltando ao trabalho e, apesar dos excessos, parecem renovados para a luta. Lembrando de como se sentiu ao ver aquelas bocas sorridentes entoando cantos de dor com os olhos derramando lágrimas, foi  Sinhá quem compreendeu porque essa gente de realidade tão sofrida comemora: Eles festejam o sonho!



quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Dani Ficando


Bom, não sei fazer
Aquela papinha de inhame,
Mas, quando você crescer
Prometo evitar vexames.
Me deixa ouvir
As palavrinhas que você repete?
Te ajudo a vestir
O sapatinho que pisa o carpete.
Juro servir
O seu potinho diário de danone.
Quero te assistir
Será que eu posso ser o seu mirone?
Posso até fazer
As vezes de sua amiga ou nanny
Rir até doer
E o mundo todo que se dane.
Mas, vai acontecer
De  castigar-te mesmo que te ame
E não vou ceder
Bem, a menos que você reclame...
Te ensino a abrir
A embalagem que cobre o chiclete
E posso encobrir
As encrencas em que você se mete.
Tento atender
Quando chamar ao telefone
E se adoecer
Eu juro vigiar, insone.
Preciso dizer
Que tudo agora é farra, é funny
E é só porque
Você chegou e se apresentou: Sou Dani!