quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Versinhos para Dani e Pedro

Entre todos meus brinquedos
Foram tantos que ganhei
Te conto agora um segredo:
O gato foi o que mais gostei.

Parece mesmo fato estranho
Que entre os grandes fosse rei
Chegou alguém do meu tamanho
E foi bem aí que eu me lasquei.

Antes, reinava soberano
Tinha atenção para dormir
Agora sou segundo plano
Torço pela areia do xixi.

Torço, retorço e puxo o rabo
É tão legal a gente se divertir!
Na lavanderia, no lavabo
Persigo meu bicho por aí.

Confesso até que no começo
Não achei muito normal
Que entre as pelúcias no meu berço
Somente essa fizesse miau.

Na verdade, a novidade
Não foi assim de todo mal
Analisando a quantidade
De caixas novas no Natal.

Entre os livros na estante
Alguma coisa assimilei
Darwin me fez ficar pensante
Pra sobreviver, me adaptei.

Hoje eu fico bem contente
Porque o dia está friozinho
E esticados no tapete
A gente dorme abraçadinho.

Aprendi a gostar dela
Gosto de fazer carinho
Minha amiga Daniela
Ele é Pedro, meu gatinho.






terça-feira, 25 de setembro de 2012

Me satisfaz


Serve o vinho suave de uvas verdes,
Abre a gaveta, veste o avental.
Vigia a água até ver que vai fervente,
Vira a massa, faz a prova de sal
E vem me provocar.

Afia a faca feito chef famoso,
Finas fatias fazem enfeite em sua mão.
Frita, refoga e abaixa o fogo.
Fica por perto e verifica o fogão.
E aí, vem me afagar.

Mistura e mexe o molho vermelho,
Me chama e me mostra a cor.
Mergulho em mais de mil condimentos:
Tomilho, cogumelo e amor.
Mas, assim vou me queimar.

Prepara os pratos de porcelana,
Aposta que pode impressionar.
Percebo no piscar da pestana
O apetite que se espalha no ar.
Pois então, eu peço mais.

Saciados de massa e sobremesa
Sentimos nossa salivação.
Suspiros sopram as velas acesas,
Sobrepõe-se o sabor da paixão.
E você me satisfaz.



domingo, 9 de setembro de 2012

Que assim seja!



Deus que me perdoe,
Por mais que o tempo voe,
Não quero que ele volte pra trás.
Saudade, a gente sente,
Mas, eu fico contente
Vendo a vida que sempre se refaz.

Já tenho alguma estrada
E não sei quase nada
Do que ainda posso experimentar.
Tenho chão pela frente
E sou tão experiente
Não tenho medo de continuar.

Gosto de me conhecer na solidão,
Sinto prazer em descobrir que sou mais.
Me sei inteira como a palma da mão,
Não sou a mesma de um segundo atrás.

Sou ser mutante, sou transformação,
Minha constância é sempre muito fugaz.
Te quero agora e não aceito seu não,
Mas, se demora, já não te quero mais.

Iemanjá que me ilumine
Pra que eu não termine
Lamentando o que não pude fazer.
Se o relógio vai ligeiro
Eu passo o tempo inteiro
Correndo atrás do que ainda há pra viver.

Nunca é muito tarde,
Aprecio a liberdade.
Só me entrego pra depois me soltar.
Não gosto de corrente
Se bem que, eventualmente,
Seja bom a gente se amarrar.

Gosto de me conhecer na solidão,
Sinto prazer em descobrir que sou mais.
Me sei inteira como a palma da mão,
Não sou a mesma de um segundo atrás.

Sou ser mutante, sou transformação,
Minha constância é sempre muito fugaz.
Te quero agora e não aceito seu não,
Mas, se demora, já não te quero mais.

Alá que me proteja,
Que eu viva, que eu veja
No espelho a minha imagem mudar.
Em cada traço que apareça
Que eu me reconheça
E saiba ainda me reinventar.

Quero ficar velha
E fazer o que der na telha
Nos limites que a idade impuser.
Mas, na hora derradeira,
No fim da brincadeira,
Que não fique nada pra resolver.

Gosto de me conhecer na solidão,
Sinto prazer em descobrir que sou mais.
Me sei inteira como a palma da mão,
Não sou a mesma de um segundo atrás.

Sou ser mutante, sou transformação,
Minha constância é sempre muito fugaz.
Te quero agora e não aceito seu não,
Mas, se demora, já não te quero mais.

Deus que me perdoe,
Iemanjá que me ilumine,
Alá que proteja...

Por Buda, que assim seja!



quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Semeamando


Tenho luvas pra vestir
E terra boa pra cavar
Fundo.
Tem semente pra plantar
E se a chuva vai cair,
Pronto!

Quando a água despencar,
A noite vai agradecer
Rindo
Vendo o chão absorver
Cada gota até secar,
Lento.


Com o sol que apareceu
Já vai dar pra respirar,
Sente!
Vê a luz que vem do céu
Clarear esse altar
Santo.

Porque, se para existir,
A gente tem que esperar
Muito
É que para ver crescer,
Há que se cuidar
Tanto.

Mas, quando a grama florescer,
Meu jardim vai se enfeitar
Lindo.
Entre rosa e jasmim,
O tempo vai se arrastar
Manso.

O quintal agora é cor
E a casa não é mais
Cinza.
Faço festa pra colher
E pra celebrar,
Canto.

Se o tempo cooperar
E o dia estiver
Quente
Amanhã vou lhe entregar
Meu amor em um buquê
Grande.

Posso até me atrapalhar
E é capaz de eu parecer
Tonto.
Mas você vai me entender
E a gente vai ficar
Junto.

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Se não...




Se não tivesse sido assim e no momento certo
Entre o saltar do gato esperto e seu agudo miado.
Se eu não fosse tão disperso, tivesse o foco reto
E não virasse, nesse segundo, a face pro seu lado.

Se a campainha da sua casa com som de pintassilgo,
Por acaso ou por ciúme, não tivesse tocado.
Se a sombra desse seu semblante sereno e macio
Não cegasse a todo instante os meus olhos nublados.

Sim, meu bem,
Se eu soubesse, eu teria evitado.

Se não houvesse espalhado em mim suas sementes
Que nem pisquei e, já de repente, elas tinham brotado.
Se eu pudesse colher os frutos entre suas pernas quentes.
Se em seu suor, suavemente, lambesse os dulcíssimos caldos.

Se o tempo não corresse estranho nas serras dos seus dentes.
Se os planos feitos pro futuro não fossem passado.
Se eu enxergasse bem agora você na minha frente
Ou se o presente me trouxesse o sossego esperado.

Bem, meu bem,
Se eu pudesse, eu teria evitado.

Não fosse o sol luzindo ardente no seu vestido justo,
Justamente, nessa sexta que foi feriado.
Ou, se eu sofresse imensamente por um terrível luto
E visitasse o cemitério em dia de finados.

Talvez, se eu não ficasse cego, surdo, bobo e mudo
Com o desenho do cometa em seu céu tatuado.
Tanta beleza assim, pra mim, também, já é insulto
Se sem você me sinto eunuco, sinto o corpo cortado.

É, meu bem,
Bem, se desse, eu teria evitado.

Se eu fosse um pouco mais sensível, se eu fosse diferente.
Quem sabe, um pouco mais bonito e menos tarado.
Se eu conhecesse o mal que o amor pode causar na gente
Se eu escutasse quem, um dia, me disse: cuidado.

Se não tivesse me lançado seus olhos de menina
Ou tomasse consciência dessa sua insensatez
E escondesse o suave rosto sob cortina fina
Não faria e nem veria o estrago que  fez.

Não, meu bem
Nem assim eu teria evitado.