segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Se não...




Se não tivesse sido assim e no momento certo
Entre o saltar do gato esperto e seu agudo miado.
Se eu não fosse tão disperso, tivesse o foco reto
E não virasse, nesse segundo, a face pro seu lado.

Se a campainha da sua casa com som de pintassilgo,
Por acaso ou por ciúme, não tivesse tocado.
Se a sombra desse seu semblante sereno e macio
Não cegasse a todo instante os meus olhos nublados.

Sim, meu bem,
Se eu soubesse, eu teria evitado.

Se não houvesse espalhado em mim suas sementes
Que nem pisquei e, já de repente, elas tinham brotado.
Se eu pudesse colher os frutos entre suas pernas quentes.
Se em seu suor, suavemente, lambesse os dulcíssimos caldos.

Se o tempo não corresse estranho nas serras dos seus dentes.
Se os planos feitos pro futuro não fossem passado.
Se eu enxergasse bem agora você na minha frente
Ou se o presente me trouxesse o sossego esperado.

Bem, meu bem,
Se eu pudesse, eu teria evitado.

Não fosse o sol luzindo ardente no seu vestido justo,
Justamente, nessa sexta que foi feriado.
Ou, se eu sofresse imensamente por um terrível luto
E visitasse o cemitério em dia de finados.

Talvez, se eu não ficasse cego, surdo, bobo e mudo
Com o desenho do cometa em seu céu tatuado.
Tanta beleza assim, pra mim, também, já é insulto
Se sem você me sinto eunuco, sinto o corpo cortado.

É, meu bem,
Bem, se desse, eu teria evitado.

Se eu fosse um pouco mais sensível, se eu fosse diferente.
Quem sabe, um pouco mais bonito e menos tarado.
Se eu conhecesse o mal que o amor pode causar na gente
Se eu escutasse quem, um dia, me disse: cuidado.

Se não tivesse me lançado seus olhos de menina
Ou tomasse consciência dessa sua insensatez
E escondesse o suave rosto sob cortina fina
Não faria e nem veria o estrago que  fez.

Não, meu bem
Nem assim eu teria evitado.

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